Antigamente morria-se lentamente no conforto do lar, envolto com a família e os amigos, despedia-se a cada momento vivido, e aos poucos seguia sua viajem.
No entanto, com o advento da tecnologia e o avanço medicina, morrer tornou-se um ato solitário, quase impessoal, tornar-se um paciente numa ala do hospital, é algo frio e desprovido de sentimento, uma vez que se preocupa mais com o funcionamento orgânico do que com o bem estar espiritual e emocional, a técnica pode beirar a desumanização.
A morte é um grande desafio ao cuidador, pois, impotente e incapaz de parar o processo, sente raiva e culpa pelos resultados, a isso se dá o nome de complexo tanatolítico.
O morrer passa-se por processos como: a negação, o que alivia o impacto do fato, auto defesa e manutenção do equilíbrio mental; passa também, pelo processo da raiva, via de regra, o paciente consciente de seu diagnóstico espera com um misto de ansiedade e depressão o momento, a raiva provoca queixas (por que eu ou por que comigo??) e exigências incomuns, como a única forma de não ser esquecido e abandonado; outra fase igualmente interessante é o processo da negação, é uma negociação com Deus o prazo maior para sua morte, e o faz através de suas orações e promessas dos mais variados compromissos; a depressão surge, como forma de aceitar o fato final da vida, abstraído e pensativo espera atento cada novo sintoma. Normalmente faz-se uma revisão de atos da vida, ato de inteira introspecção; e finalmente a aceitação, ainda que haja alguma esperança sabe angustiado que o final está cada vez mais próximo e quer morrer em paz.
Quanto mais jovem acontecer o desenlace mais difícil será aceitar, tantos para o que vai como para os que ficam, pois, elaborar as perdas se torna mais fácil com o passar da vida.
A morte pode vir acompanhada de dores, tubos e aparelhos introduzidos o corpo, muitas vezes, sem a permissão da consciência, causa solidão e impotência maior, na vida nada é tão previsível como a morte, no entanto, como esperá-la com tranquilidade? Talvez a única dor que se suporta com galhardia, esperança é a dor do parto, pois, ai sim há esperança.
O humano encontra-se em despreparo (mesmo os profissionais da saúde) para o fenômeno morte, ensinam-nos viver e não a morrer, não obstante ser um fato natural da vida.
O tabu imposto social e religioso sobre a morte, é visto ainda como algo terrível e temível, é hora de re-significar o sentido da morte, talvez considerar que é o início de um novo ciclo, cultivar a idéia da imortalidade da alma, ou mesmo das múltiplas existências do espírito, como preconizam alguns espiritualistas, e desprezemos a idéia de céu e inferno, pois, o grande temor humano é ser despejado no inferno e ter a pena pela eternidade.
Nota:
Complexo Tanatolítico. São fantasias a cerca do triunfo sobre a morte, que leva o homem a idealizar um ser onipotente capaz de retardar, impedir e até mesmo anular a morte.
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